sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Exemplo de Redação Nota 1000 do ENEM 2012

Redes sociais: o uso exige cautela
Uma característica inerente às sociedades humanas é sempre buscar novas maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas são apenas alguns dos vários exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E, atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios, são as redes virtuais, consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns.
Orkut, Twiter e Facebook são alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo globalizado. Através desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento é que nos convém cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem.
Não saber os limites da nossa exposição nas redes virtuais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do momento em que colocamos informações na rede, foge do nosso controle a consciência das dimensões de até onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informações pessoais em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulneráveis moralmente.
Percebemos, portanto, que o novo fenômeno das redes sociais se revela como uma eficiente e inovadora ferramenta de comunicação da sociedade, mas que traz seus riscos e revela sua faceta perversa àqueles que não bem distinguem os limites entre as esferas públicas e privadas “jogando” na rede informações que podem prejudicar sua própria reputação e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dúvidas, é um grande problema.
Dado isso, é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado e, acima de tudo, bom senso, para que nem a própria imagem, nem a do próximo possa ser prejudicada. Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias comunidades virtuais através das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficiência e sucesso como objeto da comunicação, serão, certamente, o melhor meio para alertar os usuários a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessários para tal.
Redação de Camila Pereira Zuconi, Viçosa (MG). Texto extraído do documento A Redação no ENEM 2012 – Guia do Participante disponível em http://www.inep.gov.br/.
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Iniciaremos nossa análise a partir do título, um item essencial em dissertações-argumentativas e, através deles, podemos verificar que a candidata compreendeu a proposta e o seu foco, pois já nele menciona as redes sociais e, inclusive, opina sobre elas ao afirmar que é necessária a cautela.
Na introdução, ela recorre à história da tecnologia da comunicação para resgatar a trajetória das relações interpessoais e à necessidade e inerência (por causa da capacidade de falar) do homem de se comunicar, o que já pontua na competência número dois que avalia a aplicação de conhecimento de várias áreas para desenvolver o tema. Ao traçar essa rota histórica, a candidata chega à internet, mais especificamente às redes sociais e afirma que seu uso é cada vez mais comum e fascinante e, assim, introduz sua tese, que será mais embasada no parágrafo seguinte, ao citar as redes sociais mais famosas e afirmar que quem não tem conta em alguma delas ou em nenhuma, praticamente não existe no mundo globalizado (mais pontuação na segunda competência). Além disso, ela cita a importância que estas redes têm nas relações entre as pessoas, inclusive na sua atuação política, dando como exemplo e mostrando mais conhecimento de mundo, a Primavera Árabe (o que “casou” com a proposta de redação da segunda fase da Fuvest do mesmo ano, que tratava da participação política; também no mesmo ano, a Unicamp, em sua primeira fase, elaborou suas propostas de redação com a internet e seus usos e consequências como pano de fundo. Às vezes isso acontece e é bom o candidato que presta estes e outros exames lembrar-se, pois um pode até ajudar no outro) e, daí, finalmente (o que aqui não é ruim) destaca sua tese, dizendo que é preciso “cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem” (ZUCONI, C. P. Redes sociais: o uso exige cautela In A Redação no ENEM 2012 – Guia do Participante disponível em http://www.inep.gov.br/.).
Seu argumento principal vem logo em seguida, quando ela diz que não saber dos limites da exposição nas redes sociais pode sair caro e até colocar em risco a integridade da pessoa diante da sociedade, alegando que ao colocar algo na rede, perde-se o controle desta publicação, o que pode causar vulnerabilidade. Neste momento, a candidata poderia lançar mão de uma estratégia argumentativa para fortalecer este argumento e dar como exemplo casos recentes de crimes cibernéticos, como por exemplo, manipulações e e-mails virais com fotos de pessoas famosas (artistas em geral), citando nomes ou não. Ao fazer isso, apenas tenha certeza de que o dado fornecido por você é verdadeiro, já que a redação não pode ter incoerências externas.
No parágrafo seguinte, ela faz uma ponderação, o que mostra bom senso: a candidata volta a afirmar a importância da internet na comunicação humana, mas faz a ressalva de que ela é perigosa para aqueles que não conhecem os limites entre o público e o privado ao publicar informações que podem prejudicar moralmente quem as publicou, além de poder denegrir a imagem alheia. Neste ponto, a autora também poderia, para alicerçar melhor seu argumento, mencionar casos de cyberbullying que, infelizmente, aumentaram com o uso das redes sociais e de pessoas que “abusaram” das redes sociais e foram prejudicadas de uma forma ou de outra (foi mandada embora do emprego, por exemplo). Dar exemplos que você conhece não tem problema, desde que seja feito de modo impessoal, isto é, usando a terceira pessoa e não a primeira, já que em dissertações-argumentativas o foco está nas ideias e não no autor.
No último parágrafo, a candidata parte para a conclusão, lugar comum para a proposta de intervenção social, última competência a ser julgada. Ela reafirma a importância da consciência e do bom senso ao se utilizar as redes sociais e diz que isso poderia ser alcançado através de ações conjuntas entre os governos e as próprias redes sócias. Apesar de ser uma proposta de solução simples, é inovadora, pois sugere uma parceria entre governo e redes sociais.
Além de tudo o que foi esmiuçado acima, a autora escreveu seu texto mostrando domínio da norma culta da Língua Portuguesa, além de demonstrar um bom uso dos recursos linguísticos a fim de produzir um texto coeso e coerente dentro do tipo textual dissertativo-argumentativo.
Na próxima semana, abordaremos mais especificamente a quinta competência avaliada pela grade de correção do ENEM: a proposta de intervenção social. Até lá!

*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP – Atua na área de Educação exercendo funções relativas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação na 1ª fase e de Língua Portuguesa na 2ª fase do vestibular 2013 da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP. Participou de avaliações e produções de diversos materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação.
**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos leitores! Suas publicações serão sempre às quintas-feiras, não percam

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