sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vestibular unificado e o avanço da educação

30 de abril de 2010
Artigo do reitor Walter Albertoni publicado no jornal Folha de São Paulo


MUITO SE FALOU , ouviu e escreveu sobre as dificuldades e falhas técnicas do sistema operacional do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) do MEC (Ministério da Educação), o que acabou desviando a atenção da sociedade do grande mérito do programa: com apenas uma prova, candidatos de qualquer nível social e de qualquer região do país puderam concorrer a uma vaga em várias instituições de ensino superior de qualidade.

As falhas estruturais e operacionais do Sisu não   podem ser desconsideradas, mas são superáveis. Para se fazer uma análise efetiva do real impacto e da eficácia do Sisu é fundamental nos atermos a sua proposta original, de dar mobilidade e facilitar o acesso ao ensino superior.

A adoção de um sistema de vestibular unificado   motivou uma importante reflexão sobre o gargalo existente entre o que o ensino médio oferece e o que as universidades exigem desses alunos que buscam ingressar nas instituições de ensino superior.

É a partir desse debate que teremos avanços no   sistema educacional brasileiro, com as universidades contribuindo cada vez mais para o desenvolvimento da educação de base.
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), considerada a melhor universidade federal do país nos últimos dois levantamentos do Índice Geral de Cursos do MEC, permitiu, por meio de seu Conselho Universitário, que os colegiados de cada um dos 26 cursos de graduação optassem livremente pela adesão ou não ao sistema unificado de vestibular.

Destes, 19 optaram pela adesão total e sete pela   forma parcial, em uma clara demonstração de confiança e vontade de contribuir com os avanços da educação no Brasil.
Confiança fruto da experiência voluntária que a Unifesp já vinha conduzindo há quatro anos, de utilizar a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como uma porcentagem (que começou em 5% e chegou a 25%) da nota da primeira prova de seu vestibular.

Essa experiência já mostrava que os alunos aprovados também tinham os melhores resultados no Enem. Alguns efeitos positivos já podem ser sentidos na Unifesp. Verificamos que a relação de candidatos por vaga nos cursos que aderiram ao vestibular unificado aumentou consideravelmente, com a procura em média três vezes maior em relação aos indicadores do vestibular de 2009, fruto da maior possibilidade de concorrência oferecida pelo vestibular unificado.

Na comparação entre o número de matrículas efetuadas a partir do vestibular unificado e o processo realizado em 2009, considerando apenas os 19 cursos que aderiram ao Sisu, identificamos redução nos números de vagas ociosas, com praticamente 100% de preenchimento.

É fundamental observar atentamente durante o ano o perfil e o desempenho dos alunos ingressantes pelo novo sistema e eventuais índices de desistência ou evasão entre os matriculados.

Mas, em uma primeira análise, no caso da Unifesp, verificamos que os candidatos convocados tiveram altas notas no Enem, o que nos leva a acreditar que o nível dos ingressantes permaneça no patamar dos anos anteriores em relação à qualidade. É fato que o Brasil entrou tarde na discussão sobre os métodos que norteiam o ingresso nas instituições de ensino superior.

No início do século 20, por volta de 1920, o ingresso em universidades brasileiras ainda se dava por meio de provas orais, enquanto nos Estados Unidos já se aplicava um modelo muito semelhante ao SAT ("Scholastic Assessment Test"), que está em vigor atualmente, com resultados extremamente satisfatórios.

Outros países, como Chile, Japão e China, contam com sistemas unificados de admissão às universidades. Por isso, já podemos considerar o Sisu um avanço.
A grande dificuldade para avaliar o impacto de uma seleção unificada de ingresso às universidades se deve ao fato de não ter sido, ao menos por enquanto, uma medida universal entre todas as instituições de ensino superior do país.

Quando isso ocorrer, reuniremos em um mesmo   fórum importantes agentes para discussão de políticas públicas que contemplem a melhor maneira da passagem do ensino médio para o superior.
WALTER MANNA ALBERTONI , 69, é reitor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia dessa universidade.

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